sábado, 27 de fevereiro de 2016

Sobre a Escrita - Stephen King


Stephen King é um dos escritores que ocupam maior espaço em minhas estantes e nos meus pensamentes (e também na fatura do meu cartão de crédito). Muitas vezes ele é uma inspiração na minha escrita. Outras vezes, apenas me choca rudemente. De qualquer modo, boa parte dos fãs dedicam muito tempo tentando entender 1) como ele faz o que faz e 2) como (ou por que) ele escreve tanto sobre si mesmo, de tantas formas diferentes, em tantos livros todos esses anos.
A chegada de Sobre a Escrita no Brasil (com gritantes quinze anos de atraso!) ajuda a responder a essas questões e a abrir tantas outras.
Vale lembrar que disse ajuda porque ele também vem falando muito sobre si mesmo e seu processo de escrita nos próprios livro, em prefácios e posfácios, principalmente nos livros escritos quando sua carreira já estava mais bem estabelecida e em suas coletâneas de contos.
King tenta dividir o livro em duas partes, uma que ele chama de currículo e tem caráter mais biográfico, e outra que ele chama de sobre a escrita, em que ele dá as valorosas dicas. Essas duas partes são entremeadas por um capítulo sobre as ferramentas que eu escritor deve possuir e saber usar, King usa como metáfora uma caixa de ferramentas que deve ser carregada sempre.
Sem dúvidas, receber dicas de um dos mais bem sucedidos escritores vivo é um atrativo e tanto, mas, para mim, o mais interessante são as digressões sobre a vida do grande autor. São passagens como a que ele conta sobre seu primeiro encontro com Thabita, ou como recebeu a notícia da publicação de Carrie em capa dura que fazem valer a pena cada centavo investido nesse livro.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

O Tigre de Sharpe - Bernard Cornwell

Cornwell fez sucesso no Brasil com as Crônicas de Artur, em que faz uma nova leitura dos mitos arturianos baseado em evidências arqueológicas e releituras historiográficas; posteriormente está também entre os mais lidos com suas Crônicas Saxônicas, uma reconstrução do período de unificação da Inglaterra, no século X. Entretanto, no exterior ele já fazia sucesso com sua primeira série, As Aventuras de um Soldado nas Guerras Napoleônicas (ou As Aventuras de Sharpe). 
Agora, depois de ter lido sua saga arturiana, sua Busca do Graal, seus livros solos e estar esperando novos livros das Crônicas Saxônicas, começo a ler os primeiros livros do autor. Depois que terminar essa série, que no Brasil já conta com 11 livros, pretendo ler as Crônicas de Starbucks, sobre a Guerra Civil Americana.
Nas Aventuras de Sharpe, acompanharemos a atividade britânica nas guerras napoleônicas através da perspectiva de Richard Sharpe, um jovem soldado raso do Exército de Sua Majestade o Rei Geoge III.
Sharpe era um órfão que foi recrutado pelo exército depois de ter matado seu empregador, o dono de uma hospedaria que o fazia roubar os hóspedes. No exército, ele não tinha, tampouco, nenhuma esperança de sucesso ou felicidade.
Seu destino muda quando ele é condenado a receber 2 mil chibatadas por atacar um superior. Embora a sentença fosse, na prática, a morte, Sharpe consegue escapar para entrar em uma missão suicida: se infiltrar no exército inimigo para tentar resgatar um espião britânico entre os indianos.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

A Luneta Âmbar - Philip Pullman

A trilogia Fronteiras do Universo teve seu início com A Bússola de Ouro, em que conhecemos Lyra Belacqua e seu Dimon, Pantalaimon, que se aventuram mundo afora para salvar as crianças que vinham sendo raptadas pela Igreja. Nessa aventura ela é ajudada por um impensável instrumento, um aletiômetro, que usa o Pó para responder perguntas.
Na sequência, A Faca Sutil, Lyra é levada a outro universo e aumenta a coleção de objetos mágicos a Faca Sutil, que tem a capacidade de cortar o véu entre os mundo e abrir passagens entre eles. Nessa segunda aventura, Lyra é ajudada por Will, o portador da Faca, e juntos eles se descobrem no centro de uma batalha celestial: entidades que se intitulam anjos lutam umas com as outras pelo que acreditam. Entre elas, algumas parecem lutar em favor da Autoridade, uma espece de divindade que a tudo comanda e é objeto de cultos da Igreja.
No terceiro e último livro Lyra e seus amigos têm desafios ainda maiores. Ela está presa em poder de sua diabólica mãe, a senhora Coulter, enquanto seus outros amigos tentam alcançá-la. Em meio a corrida, os anjos se envolvem e tentam conseguir o apoio do pai de Lyra, Lorde Asriel.
Aos poucos se revelam os planos da Igreja e os da Autoridade, que parece ser bem mais sórdida que se poderia imaginar.

Eu recomendo essa leitura não só pela qualidade da escrita e da história, mas também por se enquadrar em um dos meus estilo literários preferidos, a Fantasia Épica.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Incidente em Antares - Erico Verissimo

"Neste romance as personagens e localidades imaginárias aparecem sob nomes fictícios, ao passo que as pessoas e os lugares que na realidade existem ou existiram, são designados pelos seus nomes verdadeiros."
É esta a nota de abertura que nos deixa Erico Verissimo ao início desse livro maravilhoso.
Primeiramente, vamos a um mea culpa: eu ainda não tinha lido nenhum livro desse gênio da literatura brasileira, marco de uma geração e ídolo da literatura gaúcha. Já conhecia, é verdade, parte de seus títulos e sabia o quão querido ele é pelos leitores, mas não havia experienciado a abrangência de seu talento, seus personagens comicamente realistas e ao mesmo tempo cruelmente fantasiosos, sua narrativa fluente, coesa e ricamente marcada pela história do Rio Grande do Sul e do Brasil. Já havia, também, lido livros de seu filho, Luis Fernando Verissimo, que aparentemente herdou do pai o talento para a escrita, embora represente um estilo bastante diferente.

Incidente em Antares é dividido em duas partes. Na primeira, somos apresentados à pictórica cidadezinha gaúcha, às margens do rio Uruguai, na fronteira com a Argentina. Antares é vizinha de São Borja, terra da família Vargas, que pelos idos do 1930 fez um Presidente da República.
Nessa metade do livro, assistimos em um privilegiado lugar de leitor aos acontecimentos beligerantes que marcaram a história do inusitado povoado missioneiro, desde sua fundação, pelas mãos do estancieiro Francisco Vacariano, à chegada do pecuarista Anacleto Campolargo, passando pelo ódio instantâneo surgido entre os dois gaúchos, por suas artimanhas políticas e pelos inúmeros confrontos entre as famílias, até a reconciliação forçada por um certo Getúlio de São Borja, e a amizade de surgida entre seus membros durante o século XX.
Pela ótica dessas duas famílias, vemos ser contada a história do vilarejo, do estado e do país. Encontramos uma Antares bem provinciana, dominada pelos coronéis e suas visões políticas. Ao mesmo tempo, o período que recebe maior atenção nessa parte do livro, da década de 1920 à 1960, ocorre uma grande transformação, com o amadurecimento da democracia e as tendência autoritárias.
O que fica mesmo é a impressão de ser esta uma cidadezinha como quase todas no Brasil daquela época, mas descrita e apresentada de um modo qual um contive, que enche o leitor de vontade de viver pro lá nem que seja por uma temporada.
Na segunda parte, já em dezembro de 1963, às vésperas do golpe militar de 1964, é deflagrada em Antares uma greve geral. Os operários das três indústrias que operam na cidade reivindicam melhorias nas condições de trabalho e, dado o clima nacional, recebem o apoio de todos os trabalhadores da cidade. Assim, ficam todos os serviços paralisados, das máquinas das fábricas, aos coveiros.
Os poderosos da cidade tentam uma retomada da ordem pela força, chamando a força nacional e apelando para o governador, mas são ignorados em nome da democracia e do direito de greve. Em meio a toda confusão, muitos se indignam com situação a ponto de ficarem com a saúde abalada. D. Quitéria Campolargo, matriarca que há décadas comanda a família com pulso de ferro, é uma das vítimas, pois morre de ataque cardíaco no dia em que se inicia a greve. No mesmo dia, outros seis antarenses passam dessa para a melhor, um recorde na pequena cidade em tempos de paz e saúde.
Como a greve abrange também os coveiros, os revoltosos ocupam a entrada do cemitério e impedem o sepultamento dos defuntos, levando a cidade a um clima de caos inédito.
A confusão só faz piorar quando os defuntos insepultos resolvem se levantar e reivindicar seu direito de sepultamento.

O livro foi adaptada para a televisão em uma minissérie na década de 1990, pela Rede Globo. Também foi vezes sem conta levada aos palcos como peça de teatro país adentro.
Este foi o último romance escrito pelo autor, em 1971, e, juntamente com a maior parte de sua obra, foi traduzida e publicada em vários países.

Mal posso esperar para ler outros livros do autor, mas fico com uma certeza: esse é um livro que vale a pena ser lido e relido várias vezes!