sábado, 22 de dezembro de 2018

1Q84 - Haruki Murakami


Murakami é conhecido, nos meios literários, como o eterno candidato ao Prêmio Nobel de Literatura. Todo ano ele é cotado para levar a honraria mais uma vez para o Japão, mas todo ano alguém "passa na sua frente".
A notoriedade do escritor japonês está em sua essência, ao mesmo tempo japonesa e cosmopolita. Seus livros retratam o japão de hoje — do fim do século XX  e início do século XXI — com o mesmo estilo básico de narrativa dos ocidentais. Ou talvez um eficaz meio termo entre o estilo redundante japonês e o ocidental. 
A trilogia 1Q84 inspira-se na magnos opus de George Orwell, 1984, para retratar um mundo levemente surreal, com duas luas no céu, seres misteriosos e fatos que contrariam a ''leis da ciência'. A interpretação oriental do realismo mágico dá um toque de frescor na narrativa de Murakami. 
Além, é claro, dos gatos. Os gatos sempre estão presente. Assim como a música. É como se em cada livro do Murakami houvesse uma música tema, que ajuda a conduzir a história, e um gato à espreita.

Os livros da trilogia são divididos em meses do mencionado ano, o primeiro vai de abril a junho, o segundo de julho a setembro, e o terceiro de outubro a dezembro. 
São divididos em capítulos que acompanham os dois personagens principais, Tengo Kawana, professor de matemática e aspirante a escritor, que se envolve em um conchavo editorial para reescrever um livro de fantasia que se torna mais realista a cada página; e Massami Aomame, uma personal trainer e assassina de aluguel. 
A trama investiga um grupo religioso secreto que se relaciona com a narrativa do livro ficcional reescrito por Tengo. Há também personagens secundários que valem um livro cada: Eriko Fukada, a adolescente de 17 anos que foge do grupo religioso e escreve uma história polêmica; Tamaru, o gurda-costa da rica senhora que lidera uma cruzada contra a violência doméstica, assassinando agressores, sempre que necessário, e Ushikawa, um repulsivo detetive particular.
1Q84 é um livro (ou uma trilogia) ímpar, envolvente e divertido.

domingo, 16 de setembro de 2018

Travessuras da Minha Menina Má: après les saisons - Otávio Bravo

Nos encontramos novamente com Victor, agora a caminho do fundo do poço. Depois de ser atraiçoado de diversas maneiras e de sofrer todos os possíveis reveses, ele decide que ainda pode piorar tudo, e, por contra própria, testar seus limites físicos e morais.
Ele mergulha inicialmente em uma jornada de drogas e baladas pela Europa. Desempregado e sem perspectivas para o futuro profissional e amoroso, ele é triste caricatura do coroa que quer ser jovem novamente. E essa é uma das partes mais leves da terceira fase de sua vida.
Pra falar a verdade, chega a ser difícil a leitura de algumas passagens em que Victor está 'na sarjeta', pra quem acompanhou a história de sua vida por décadas, viu o sucesso que ele pode alcançar, dar com ele, agora, submerso em drogas e depressão é um teste que só superamos graças à qualidade do texto.
É nesse volume que a história mais se aproxima da de Vargas Llosa, com os altos e baixos na vida de Victor, seus reencontros com Duda, a esperança que se renova periodicamente e a frustração que retorna inexoravelmente.
É também por causa de Duda que ele tem sua chance de redenção e de reencontrar a felicidade, na figura de Ana Marcela.
Do começo ao fim, um livro visceral.

sábado, 8 de setembro de 2018

Travessuras da Minha Menina Má: les saisons - Otávio Bravo

Depois da tragédia final do livro um, encontramos Victor de volta ao Brasil, tentando reconstruir sua vida, baseando-se em sua carreira, dividindo seu tempo entre a instalação da sede latino-americana de um centro internacional de pesquisa sobre História e uma misteriosa consultoria sobre o Oriente Médio para o governo americano em sua Guerra ao Terror.
Nesse clima de levar a vida e trabalhar apenas, ele se apaixona. Por uma aluna!
Difícil imaginar um tabu maior, romance entre professor a aluna, quarentão e recém saída da adolescência. Bravo suaviza a polêmica ao estabelecer que ela era aluna de mestrado, e que só fora aluna por um semestre.
Polêmica maior fica para o histórico do romance. É nesse momento que Bravo presta vênias ao Marquês de Vargas Llosa ao conferir hábitos de menina má à Maria Eduarda. Ao mesmo tempo meiga e libidinosa, faceira e taciturna, Duda dá novo tempero a vida de Victor. 
Desde os primeiros meses da relação percebemos o quanto ela muda nosso caro Viking. E quão perigosa ela pode ser, com sua sede de si mesma e com sua instabilidade.

Paralelamente à história de desventura amorosa, o livro aborda/tangencia o eterno problema das condições e maus hábitos da pesquisa universitária no Brasil, com a falta de verba e reconhecimento, e a enfatiza ao comparar com a experiência anterior de Victor, na Inglaterra.
É Impossível pra quem 'viveu' o amor de Victor e Marcella não se enciumar um pouco de Maria Eduarda, mesmo em sua fase doce, afinal, ao devolver o brilho aos olhos de Victor, ela também passa a ocupar o posto de "amor de sua vida".

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Travessuras da Minha Menina Má: avant les saisons - Otávio Bravo


Resultado de imagem para travessuras da minha menina maImagine uma turma de amigos das antigas. Amigos de verdade, com histórias pra contar, companheirismo, romances e tragédias misturadas ao dia a dia. Amigos que passam juntos a adolescência, descobrem juntos as festas, as paqueras, as dúvidas do vestibular e o luto. Amigos pra carregar na memória a vida toda. 
Estes são Victor, Caíque, Daniela, Tito, Euclides, Leonardo, Marcella, Paulo Sérgio, Renatinha e Sérgio Ricardo, jovens da Zona Sul carioca dos anos 1980, época de mudanças sociais e políticas que se infiltram nessa narrativa.
Esse livro poderia ser uma obra completa por si, mas é apenas a introdução de uma trilogia que mistura História, aventura, futurismo e amor ao acompanhar a vida de Victor e, principalmente, seus desencontros com a Menina Má.
Nesse primeiro volume, praticamente um romance de formação, acompanhamos as três primeiras décadas da vida de Victor, que narra as próprias incertezas, erros, amores, perdas e aprendizagens. Vemos um jovem adolescente cheio de hesitação se tornar um pai de família e um historiador de sucesso. Percebemos o quão nos afeiçoamos a ele ao sofrermos juntos com as tragédias que ele atravessou.

O título e a história são inspirados do maravilhoso livro do Nobel peruano de Literatura Mario Vargas Llosa, Travessuras da Menina Má, que conta a vida de Ricardo, descrevendo os altos e baixos desse Bom Menino nas mãos de sua Menina Má.
Bravo — que estreia na literatura já com três livros de uma vez — é promotor no estado do Rio de Janeira. Possuidor de um currículo invejável, provavelmente, colocou muito de si em Victor. 
No final, enredo e estilo combinados, mal fechamos o livro e já estamos com sua sequência nas mãos, curiosos e aflitos.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

A Mão Esquerda da Escuridão - Ursula K. Le Guin

Conheci a obra de Ursula Le Guin em meados do ano passado, com o lançamento de Os Despossuídos (um livro realmente maravilhoso). Foi paixão à primeira leitura. Nesse livro a autora consegue construir uma trama de ficção científica baseada em conceitos físicos relacionados com a Teoria da Relatividade, mesclado com filosofia taoista, anarquismo e uma análise sociológica sobre o machismo.
Em A Mão Esquerda da Escuridão a autora faz algo semelhante e, ao mesmo tempo, incomparável.
A história se passa em um futuro em que a humanidade se espalhou por diversos planetas e sistemas da universo. Um sistema de propulsão permite viagens em velocidades próximas à da luz e foi criado um sistema de regulação de comércio e troca de informações semelhante ao modelo da ONU chamado Ekumem.
Um emissário do Ekumen foi ao planeta Gethem, conhecido como Inverno por ainda estar em uma profunda Era Glacial, para tentar convencer os resistentes governos locais a aderir à comunidade galática. Entre os desafios enfrentados pelo emissário Genly Ai é a fisiologia dos habitantes desse planeta. Embora descendam dos mesmos humanos que colonizaram todos os demais planetas, eles evoluíram de forma a praticamente eliminar a distinção sexual. Durante quase todo o tempo eles são hermafroditas e não manifestam fenótipo masculino ou feminino. A exceção ocorre apenas no período fértil, em que cada indivíduo. Nesse período eles podem manifestar como machos ou fêmeas, conforme o estímulo ambiente; e podem se comportar com um dos sexos em um período e com o outro num período seguinte.
O livo é permeado por camadas em que se imbricam sociologia, filosofia, ciência, aventura e trama política, criando uma narrativa ímpar na literatura mundial.