sábado, 28 de setembro de 2013

O Mundo de Sofia - Jostein Gaarder

Fraco. É o adjetivo que me vem à cabeça para definir este aclamado sucesso de vendas dos anos 90.
Às vésperas de seu aniversário de quinze anos, Sofia Amundsen começa a receber bilhetes e cartões postais bastante estranhos. Os bilhetes são anônimos e perguntam a Sofia quem é ela e de onde vem o mundo em que vivemos. Os postais foram mandados do Líbano, por um major desconhecido, para alguém chamada Hilde Knag, jovem que Sofia igualmente desconhece.
O mistério dos bilhetes e dos postais é o ponto de partida do romance. De capítulo em capítulo, de "lição" em "lição", o leitor vai trilhando a história da filosofia ocidental - dos pré-socráticos aos pós-modernos.
Vale ressaltar que o livro é mais um guia básico de filosofia do que um romance.
Sua proposta é ser um divertido passeio pela filosofia permeado com o cotidiano de uma jovem, com um que de mistério; mas na realidade ele é denso no que diz respeito à filosofia, insosso no tocante aos dilemas adolescentes e forçado no que é relativo ao mistério.
O mais estranho é a peremptória reviravolta que acontece no meio do livro, de repente, o que era uma coisa certa, deixa de existir, e novos elementos são adicionados em um ponto em que a história já parecia encaminhada...
Mas é, sem dúvidas, uma aula de filosofia e tanto, para aqueles que se interessam pelo assunto...

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Formas do Nu - João Cabral de Melo Neto

1.
A aranha passa a vida
tecendo cortinados
com o fio que fia
de seu cuspe privado.

Jamais para velar-se:
e por isso não são ralos.
Para enredar os outros
é que usa os enredados.

Ela sabe evitar
que a enrede seu trabalho,
mesmo se, dela mesma,
o trama, autobiográfico.

E em muito menos tempo
que tomou em tramá-lo,
o véu que não a velou
aí deixa, abandonado.

2.
Somente na metade
é o arauá couraçado.
Na metade cimento,
na laje do telhado.

Porque apenas do teto
que o veste pelo alto,
o arauá existe nu,
nu de pele, esfolado.

Sua casa tem teto
mas não tem assoalho:
cai descalça no mangue,
chão também escoriado.

E o morador da casa
se mistura por baixo
com a lama já mucosa:
bixo e chão penetrados.

3.
Que animais prezam o nu
quanto o burro e o cavalo(que aliás em Pernambuco
jamais andam calçados).

A sela e a cangalha
deixam-nos sufocados
como se respirassem
também pelos costados.

É vê-los se espojar
na escova má do pasto
quando lhes tiram o arreio
e os soltam no cercado:

se espojando, têm todos
os gestos de asfixiado:
espasmos, estertores
de asmático e afogado.

4.
O homem é o animal
mais vestido e calçado.
Primeiro, a pano e feltro
se isola do ar do abraço.

Depois, a pedra e cal,
de paredes trajado,
se defende do abismo
horizontal do espaço.

Para evitar terra,
calça nos pés sapatos,
nos sapatos, tapetes,
e nos tapetes, soalhos.

Calça as ruas: e como
não pode todo o mato
para andar nele estende
passadeiras de asfalto.

sábado, 21 de setembro de 2013

Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley

O livro foi escrito há 80 anos e, mesmo assim, tem uma narrativa envolvente e fácil. Só me lembro de ver a ficção científica ser tratada de uma forma semelhante em Robin Cook.
A primeira vez que ouvi falar deste livro foi em um minicurso sobre Química e Literatura no XVI Encontro Nacional de Ensino de Química, onde discutíamos livros com potencial de utilização como ferramentas em nossas aulas de química.
O ano da narrativa é 634 DF (depois de Ford), equivalente a 2497. O Estado científico totalitário zela por todos. Os seres humanos são gerados em laboratórios, em lotes de dezenas por vez. Durante o período de "gestação" eles são artificialmente alterados para que se enquadrem em uma da 5 categorias de humanos: Alfa, Beta, Gama, Delta e Ípsilon (em ordem decrescente de posicionamento social).
Na infância e na adolescência eles são acondicionados hipnoticamente durante o sono a se enquadrarem nessa sociedade inovadora. Para garantir a funcionabilidade do sistema e a felicidade geral, a droga soma é universalmente distribuída em doses convenientes para os usuários.
Família, monogamia, privacidade e pensamento criativo constituem crime. Os conceitos de 'pai' e 'mãe' são meramente históricos (e geram constrangimento). Relacionamentos emocionais intensos ou prolongados são proibidos e considerados anormais (imorais). A promiscuidade é moralmente obrigatória e a higiene, um valor supremo.
Não existe paixão nem religião, apenas uma estranha veneração à Ford.
Mas nem tudo corre como programado. Bernard Marx tem uma infelicidade doentia - acalentando um desejo não natural por solidão. Não vendo mais graça nos prazeres infinitos da promiscuidade compulsória, Bernard quer se libertar. E ele vê em uma visita a um dos poucos remanescentes da Reserva Selvagem, onde a vida antiga, imperfeita, subsiste, a possibilidade de reviravolta.

sábado, 14 de setembro de 2013

A Senhora de Avalon - Marion Zimmer Bradley

O livro que é o elo de ligação entre A Casa da Floresta e As (quatro) Brumas de Avalon, é dividido em três partes, que contam desde o primeiro contato das sacerdotisas da Deusa com a ilha sagrada até [...]. Neste livro fica claro o complexo ciclo de reencarnações que permeiam e norteiam toda a série.
A primeira parte, que vai do ano 96 ao ano 118, mostra o estabelecimento de Avalon como uma comunidade religiosa, suas primeiras dificuldades, causadas pela intolerância dos cristãos que começavam a habitar a região; e como a ilha deixou de fazer parte no mundo dos Homens, se alocando entre este e o Reino Encantado. Nesta fase, a Senhora de Avalon é Caillean, remanescente de Vernemeton (a Casa da Floresta), que luta com todas as forças para manter seu novo bastião da fé antiga.
A segunda fase vai do ano 285 ao ano 293. No contexto histórico, o Império Romano começa a declinar, enfrentando revoltas e incursões bárbaras em diferentes pontos de seu vasto território, com isso a Britânia, agora resignada com o controle romano, fica ligeiramente esquecida, à merce da onda de invasores anglo-saxões.
A senhora de Avalon deste momento é Dierna, que usará sua influência para dar à Britânia um novo líder, independente de Roma.
Na terceira parte, que vai de 440 a 452, encontramos personagens já conhecidos (para que já leu As Brumas de Avalon), como Viviane, Taliesin, Igraine e Morgause. Só que aqui,  foco está dirigido à vidade de Viviane, durante sua juventude.
Nesse momento a senhora de Avalon é Ana, a mãe de Viviane, uma mulher dura fria, que luta para fazer o que entende como sendo o melhor. Juntas elas vão começar a preparar os acontecimentos que levarão ao nascimento do Salvador da Britânia.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O Último Poema - João Cabral de Melo Neto

Não sei quem me manda a poesia
nem se Quem disso a chamaria.

Mas quem quer que seja, quem for
esse Quem (eu mesmo, meu suor?),

seja mulher, paisagem ou o não
de que há que preencher os vãos.

fazer, por exemplo, a muleta
que faz andar minha alma esquerda,

ao Quem que se dá à inglória pena
peço: que meu último poema

mande-o ainda em poema perverso,
de antilira, feito em antiverso.

sábado, 7 de setembro de 2013

O Caso de Charles Dexter Ward - H. P. Lovecraft

Desde que comecei a ler Lovecraft minha curiosidade por esse único romance escrito pelo autor só vem aumentando. Depois de finalmente ler, fico um pouco desapontado...
O livro descreve a história como uma análise do caso clínico de psicopatologia do jovem Charles Dexter Ward. Assim, a narrativa é fria, formada por teorias, cartas, depoimentos de pessoas envolvidas no caso.
Charle é um jovem apreciador da arqueologia que descobre, por acaso, a lápide de Joseph Curwen, seu tetravô, um antepassado desconhecido e personagem rodeado de boatos históricos intrigantes, o que desperta a curiosidade de Ward, que passa, então, a buscar toda informação a seu respeito.
Curwen era considerado bruxo pelo povo da época, devido ao seu comportamento excêntrico e por praticar atividades um tanto esquisitas. Os boatos começaram por causa dos sons de agonia vindos de sua casa, e levam a suspeitas de vampirismo e canibalismo.
Durante sua pesquisa Charles se envolve tão profundamente ao ponto de transformar-se fisicamente, mudar sua personalidade e suas ações. Neste ponto, seu pai contrata o Dr. Willet para descobrir porque o filho mudou tanto e se pode declarar o rapaz como louco. O Dr. Willet passa a seguir, então, os passos de Charles, e receoso de dar um parecer errado, tenta ligar todos os fatos até chegar a um final chocante.
Percebi algumas semelhanças com A Hora das Bruxas, de Anne Rice, principalmente, na descrição do sombrio tetraravô de Charles.