sábado, 26 de julho de 2014

A Intimação - John Grisham

Eu tenho uma grande resistência com John Grisham. Li "O Advogado" e detestei, li "O Recuros" e não me atraiu em nada. Só li esse terceiro porque já estava comprado (naquelas promoções de 3 livros por R$29,90) e mesmo assim demorei mais de 7 meses para me convencer a tentar de novo.
Pois bem, que sorte que eu me convenci. O livro é bom (reparem que eu não disse muito bom).
Tudo começa com uma breve carta, em que o juiz (aposentado) Reuben Atlee convoca seu filho, o professor de direito Ray Atlee, para passar em sua casa no final da tarde de domingo.
Ray faz todos os planos para a viagem enquanto relembre o quão desagradável pode ser a convivência com o pai. Quando chega na pequena cidade em que nasceu Ray encontra o pai morto. Morto, com o testamento pronto e os documentos fáceis de organizar.
O inesperado são os 3 milhões de dólares que Ray encontra escondidos na casa do pai.
Ray encontra-se em um dilema: Qual a origem do dinheiro? Por que estava escondido? Deve, ele, dividir o dinheiro com o irmão, Forrest, o filho mais novo, que ostenta o título de ovelha negra da família, que já usou todo tipo de droga conhecida e pode acabar se matando com essa fortuna?
E o pior: Quem o está perseguindo em busca do dinheiro?
O livro progride muito bem, com capítulos rápidos e todo o cotidiano dos advogados, padrão nas obras de Grisham.
O final é que é uma cagada. Parece que ele tava com pressa de começar outro projeto e deixou de escrever uns dois ou três capítulos.

sábado, 19 de julho de 2014

As Crônicas de Artur: O Inimigo de Deus – Bernard Cornwell




Retomando a incrível narrativa da vida de Artur...
Nosso herói saiu vencedor da sangrenta batalha no Vale do Lugg e conseguiu
unificar os reinos da Britânia sob um juramento de fidelidade ao jovem Rei Mordred. Agora é a hora de se preparar para a verdadeira batalha, aquela que expulsará os usurpadores saxões das terras britânicas.
Porém, outro conflito exigirá sua atenção antes, a perseguição religiosa dos cristãos contra os pagãos.
Na verdade, para Artur, não importa se a nova religião vencer, desde que isso não atrapalhe seus objetivos.
Um homem, porém, jamais se esquecerá da antiga fé: Merlin. Eles está de volta á Britânia e está disposto a reunir os Treze Objetos Sagrados da Britânia, espalhados quando os romanos devastaram Ynys Mon, a Ilha Abençoada. Ele acredita que assim, os Deuses serão restaurados e os saxões serão lançados ao mar e o cristianismo será apagado até o último vestígio (quem dera...).
Em sua jornada o grande mago exige levar o auxílio de Lorde Derfel, um dos mais poderosos guerreiros de Artur, que segue com ele rumo aos confins da Terra em busca dos tesouros, deixando os planos de Artur interrompidos.
Artur ainda recebe também golpes duríssimos de onde menos esperava, e vê seu sonho sendo posto a perder por aqueles que mais amava.
Nesse romance, assim como nos outros dois que compõem a trilogia, Cornwell se destaca (entre outros motivos) pela riqueza da narração das batalhas.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Perguntas - Carlos Drummond de Andrade

Numa incerta hora fria
perguntei ao fantasma
que força nos prendia,
ele a mim, que presumo
estar livre de tudo,
eu a ele, gasoso,
todavia palpável
na sombra que projeta
sobre meu ser inteiro:
um ao outro, cativos
desse mesmo princípio
ou desse mesmo enigma
que distrai ou concentra
e renova e matiza,
prolongando-a no espaço
uma angústia do tempo.

Perguntei-lhe em seguida
o segredo de nosso
convívio sem contato,
de estarmos ali quedos,
eu em face do espelho,
e o espelho devolvendo
uma diversa imagem,
mas sempre evocativa
do primeiro retrato
que compõe de si mesma
a alma predestinada
a um tipo de aventura
terrestre, cotidiana.

Perguntei-lhe depois
por que tanto insistia
nos mares mais exíguos
em distribuir navios
desse calado irreal,
sem rota ou pensamento
de atingir qualquer porto,
propícios a naufrágio
mais que à navegação;
nos frios alcantis
de meu serro natal,
desde muito derruído,
em acordar memórias
de vaqueiros e vozes,
magras reses, caminhos
onde a bosta de vaca
é o único ornamento,
e o coqueiro-de-espinho
desolado se alteia.

Perguntei-lhe por fim
a razão sem razão
de me inclinar aflito
sobre restos de restos,
de onde nenhum alento
vem refrescar a febre
desse repensamento:
sobre esse chão de ruínas
imóveis, militares
na sua rigidez
que o orvalho matutino
já não banha ou conforta.

No vôo que desfere,
silente e melancólico,
rumo da eternidade
ele apenas responde
(se acaso é responder
a mistérios, somar-lhes
um mistério mais alto):

Amar depois de perder.

sábado, 12 de julho de 2014

O Clube do Filme - David Gilmour

Esse é daquele tipo de livro que você pega pra ler sem esperar nada e acabas sendo surpreendido por uma história.
Ele pode te atrair por dois pontos: os momentos em que o autor discorre sobre os filmes, falando de diretores, atores aspectos técnicos ou curiosos (essa é a parte que eu menos gosto); e o enredo em si.
No livro David Gilmour conta sobre um período difícil de sua vida, sem trabalho fixo, com o dinheiro curto e o filho de 15 anos colecionando reprovações em todas as matérias do ensino médio. Logo de cara Gilmour quebra um paradigma, propõe ao garoto que ele poderia abandonar a escola - e ficar sem trabalhar e sem pagar aluguel - desde que assistisse semanalmente a três filmes escolhidos pelo pai. Daí, segundo o autor, viria toda a educação do filho.
Semana a semana, lado a lado, pai e filho viam e discutiam os melhores e os piores filmes: de A Doce Vida (o clássico de Federico Fellini) a Instinto Selvagem (o thriller sensual estrelado por Sharon Stone); de Os Reis do Iê, Iê, Iê (hit cinematográfico da Beatlemania) a O Iluminado (interpretação primorosa de Jack Nicholson, dirigido por Stanley Kubrick); de O Poderoso Chefão (o melhor filme de todos os tempos) a Amores Expressos (cult romântico e contemporâneo do chinês Wong Kar-Way).
Ao passar dos anos (cerca de três ao todo) o pai tem a oportunidade de ajudar o filho a passar por diversas situações.

Um fator interessante (que me causou muito estranhamento) é que em momento algum o autor cita sua outra filha, e nós só descobrimos que Jesse não é filho único no final do livro, nos agradecimentos!

sábado, 5 de julho de 2014

As Crônicas de Artur: O Rei do Inverno – Bernard Cornwell



Há tempos eu não encontrava um livro como esse. Cativante, dinâmico, polêmico e essencialmente belo.
Ah, e historicamente bem fundamentado.
O livro inicia uma trilogia que se propõe a contar a vida do lendário Artur como nuca antes.
O livro é narrado em primeira pessoal (o que eu costumo não gostar) por Derfel Cadarn, um velho monge que está escrevendo a história de Artur para a rainha. Junto com a vida de Artur, Derfel conta também a sua própria.
Segundo a versão de Cornwell, Artur não fora rei. No entanto, mesmo assim governara as terras britânicas, como comandante militar.
Tudo começa com o nascimento de Mordred, filho de Mordred e neto do Grande Rei Uther Pendragon. Artur também era filho de Uther, porém ilegítimo.
No momento do nascimento de Mordre (durante o inverno, daí o nome do livro) Uther já está bastante velho e, para manter seu herdeiro no trono, exige de Artur o juramento de defendê-lo como rei da Dumnonia (no sudoeste da Inglaterra). É este juramento, e o sonho de uma Britânia unida que moverá nosso herói.
Como plano de fundo temos dois conflitos, um entre os britânicos e os saxões, que insistem em continuar invadindo as terras dos primeiros; outro entre o cristianismo em ascensão e o paganismo resistente. Claro, pois a bela fé cristã não admite conviver com outras e exige que os que não se submetem á sua autoridade sejam mortos.
A história deste primeiro livro se foca na infância de Mordred, enquanto Artur comanda as terras do rei e tenta consolidar alianças com seus vizinhos, pois acredita que apenas unidos os britânicos poderão se livrar dos saxões.
Durante um desses esforços por união, com Derfel já a seu serviço, que Artur provoca o maior conflito entre reinos vizinhos já visto. Ele estava para se casar com Ceinwyn, filha do rei de Powys, mas a abandona e favor de Guinevere. Com isso Gorfyddyd, o rei de Powys, sendo inimigo jurado da Dumnonia vê a oportunidade que queria para atacar.
Assim, a grande ação do livro é a batalha entre os dois reinos.

Nas semanas seguintes postarei sobre os dois outros livros.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

O Chamado - Carlos Drummond de Andrade

Na rua escura o velho poeta
(lume de minha mocidade)
já não criava, simples criatura
exposta aos ventos da cidade.

Ao vê-lo curvo e desgarrado
na caótica noite urbana,
o que senti, não alegria,
era, talvez, carência humana.

E pergunto ao poeta, pergunto-lhe
(numa esperança que não digo)
para onde vai — a que angra serena,
a que Pasárgada, a que abrigo?

A palavra oscila no espaço
um momento. Eis que, sibilino,
entre as aparências sem rumo,
responde o poeta: Ao meu destino.

E foi-se para onde a intuição,
o amor, o risco desejado
o chamavam, sem que ninguém
pressentisse, em torno, o chamado.