sábado, 8 de julho de 2017

O Clube do Fogo do Inferno - Peter Straub

Straub é daqueles autores que ficaram estigmatizados como "escritor de livros de terror", talvez por ter escrito ótimos livros desse gênero; mas O Clube do Fogo do Inferno não segue exatamente a receita. Há momentos de tensão psicológica ou de horror realístico, mas nada daquele bom e velho "terror de gelar o sangue".
Com um método narrativo que eu adoro, ele primeiro gasta duzentas páginas — um terço do livro — apresentando a personagem principal, Nora Chancel, ex-enfermeira que serviu na guerra do Vietnã, atualmente casada com o mimado, imaturo e problemático Davey Chancel, herdeiro da Casa Editorial Chancel. A história e a personalidade de uma miríade de personagens se apresenta aos poucos, à medida que os acontecimentos levam à reflexão sobre acontecimentos passados.
Vemos, por exemplo, que Nora fora estuprada durante a guerra, por soldados compatriotas, que seus traumas deixaram marcas profundas e que há momentos de seu passado que ela prefere evitar, e que, consequentemente, ficam pouco explicados nas primeiras duas centenas de páginas do livro. O próprio tema do estupro volta a ser abordado de modo bastante polêmico no segundo terço da história, quando Nora é raptada por um serial killer local. Aliás eu diria que toda a maneira como as personagens femininas, especialmente Nora, são construídas nesse livro da década de 1990 merecem uma reflexão.
A Casa Chancel é apresentada quase como sendo a editora de um livro só, pois seu maior sucesso, Jornada da Noite é responsável por quase toda a fortuna da família Chance. Straub faz um trabalho incrível relacionando o livro fictício com seu romance, com personagens totalmente obcecados por Hugo Driver, o autor fictício. 
Quando Nora é engolida pela trajetória de fuga de seu sequestrador ela percebe que os mistérios de Hugo Driver e da Casa Chacel podem ser maior do que a paixonite literária de seu marido. 
Enfim, um livro excelente, muito bem elaborado, que prende do início ao fim. Só é uma pena estar fora de circulação atualmente no Brasil, só podendo ser encontrado em sebos ou bibliotecas.

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